Era da desinformação - parte 1




Texto Bíblico: Daniel 12.4; 1 Timóteo 4.1-3


Estamos vivendo na era da informação. A influência da mídia, em especial a televisão, atualmente é inegável. Tomando esse fato como ponto de partida, procuro analisar a influência da publicidade no comportamento de crianças e adolescentes. Basta uma olhada rápida ao nosso redor para percebermos que a publicidade está em toda parte — nas ruas, rádio, revistas, internet, igrejas —, mas em especial na televisão. A TV está presente e tem exercido influência em muitos lares evangélicos. Não podemos negar essa realidade. Mesmo com o avanço das tecnologias digitais, a televisão continua ocupando um espaço privilegiado no cotidiano das famílias brasileiras. Hoje ela é o principal veículo por meio do qual as crianças e os adolescentes são atingidos pela propaganda. 

Antes de adotar uma postura crítica frente ao uso da televisão e da mídia, é preciso ter consciência de que esta não é a única responsável pelo mau comportamento das crianças e jovens. Caso fosse a única, bastaria termos uma TV perfeita para vivermos um Éden aqui na Terra. O que acontece é que as crianças e os adolescentes (e adultos também) estão se excedendo diante de um veículo de comunicação que tem o poder de manipular o pensamento, as ideias. 

1.    A publicidade na “telinha”

As Escrituras Sagradas nos advertem: “Não porei coisa má diante dos meus olhos...” (Sl 101.3). Atualmente, essa advertência não é apenas divina, pois psicólogos e psiquiatras também alertam e advertem sobre os problemas causados pelo excesso de exposição à mídia, principalmente a TV. A criança brasileira é uma das que passam a maior parte do tempo livre diante da televisão. Segundo uma pesquisa do Painel Nacional de Televisão do Ibope, publicada no livro Crianças do Consumo, de Susan Linn, as crianças brasileiras de 4 a 11 anos assistem em média a 4h51 minutos de TV por dia. O Brasil ficou em primeiro lugar — antes dos Estados Unidos — na quantidade de tempo que as crianças ficam diante do televisor, principal veículo pelo qual as crianças são atingidas pela propaganda. A criança e o adolescente evangélico, que frequentam a ED, não estão de fora desses números. Eles também são alvo da propaganda e acabam se tornando consumistas inconscientes, adquirindo hábitos que são prejudiciais à saúde física, mental e espiritual, contrariando os princípios bíblicos. As crianças são um alvo fácil, pois não conseguem abstrair. O pensamento delas é concreto, literal. Veja o que nos diz a pesquisadora Susan Linn sobre isso.

 


“Até a idade de cerca de oito anos, as crianças não conseguem realmente entender o conceito de intenção persuasiva — segundo o qual cada detalhe de uma propaganda foi escolhido para tornar o produto mais atraente e para convencer as pessoas a comprá-lo” (2006, p. 22).



As cores, a música, o cenário, os personagens e os muitos efeitos especiais são estrategicamente pensados a fim de tornar o produto mais atraente. Objetivo é somente um: o lucro. Eles querem vender. Não estão pensando no que é realmente bom para as crianças e os jovens. A propaganda mexe com as emoções. Os publicitários sabem como fazer isso e o fazem muito bem. Pare e pense: Qual é seu comercial predileto? Você verá que a maior parte deles está relacionada à sua infância. Quantas recordações eles trazem até a sua mente. Você acaba sendo envolvido por um turbilhão de sentimentos e torna-se mais susceptível a adquirir alguns produtos, mesmo que não precise deles. 


2.    Esquemas de convencimento na propaganda

Adilson Citelli, na sua obra Linguagem e Persuasão, apresenta alguns dos esquemas básicos utilizados pela publicidade para o convencimento. Vejamos:

1.    Velhas fórmulas (uso de estereótipos). Exemplo: A figura de um jovem bem vestido (roupas de griffe), bonito (sarado), passa a ideia de pessoa bem-sucedida, honesta. É o convencimento pela aparência. 
      
“A grande característica do estereótipos é que ele impede qualquer questionamento acerca do que está sendo anunciado, visto ser algo de domínio público, uma “verdade” consagrada” (2002, p. 69).

2.    Substituição de nomes. Os termos são alterados com o objetivo de influenciar positiva ou negativamente certas situações. Exemplo: “Glamorosas, para jovens elegantes, bonitas, charmosas”. 

3.    Apelo à autoridade. Utilização de profissionais de determinadas áreas a fim de validar a mensagem, conceito que a propaganda quer transmitir. Exemplo: Dentistas, atletas, professor, etc. 

4.    Afirmação e repetição. O slogan utilizado por uma grande marca de chocolate que não saia da nossa cabeça: “Compre Batom!” Essa era uma estratégia utilizada pelos nazistas. “Goeblees, o teórico da propaganda nazista, apregoava que uma mentira repetida vezes era mais eficaz do que a verdade dita uma única vez” .

3.    Os efeitos nocivos da propaganda

• Aumento da obesidade infantil -  As crianças já não brincam mais como deveriam e estão cada dia mais sedentárias. De acordo com dados apresentados pela Escola Paulista de Medicina, na “Primeira Jornada de Alimentos e Obesidade na Infância e Adolescência”, no Brasil 14% das crianças são obesas e 25% estão acima do peso.  
As empresas de alimentos infantis têm investido no marketing de seus produtos colocados à disposição das crianças, uma vitrine atraente, repleta de guloseimas. Segundo os especialistas, a propaganda tem o poder de afetar as crianças mais profundamente do que os adultos, levando-as a consumir alimentos nem sempre saudáveis. O Instituto Alana publicou uma pesquisa que mostra dados bem alarmantes. Observe os dados da pesquisa:   “50% das propagandas vistas na televisão pelas crianças são de alimentos, sendo 34% de guloseimas e salgadinhos, 28% de cereais, 10% de fast food, 1% de suco de frutas e nenhuma de frutas e legumes”. 

• Aumento da agressividade - As crianças ficam expostas a imagens violentas e repletas de sexualidade, o que acaba por afetar seu comportamento social e seus valores. As crianças que assistem à violência gratuita estão propensas a enxergá-la como uma maneira eficaz de resolver conflitos. Segundo a Academia Americana de Pediatria, “assistir à violência pode levar à violência na vida real”.

• Aumento da atividade sexual precoce e fora do casamento. A infância e a adolescência tornaram-se curtas e o número de adolescentes grávidas virou uma questão de saúde pública. Brandon Tartikoff, antigo presidente da NBC, declarou: “Realmente, acredito que as imagens influenciam os comportamentos [...] a TV é financiada por comerciais e a maioria usa comportamentos imitativos”. 

• Diminuição do diálogo familiar. Os pais já não conversam como deveriam com seus filhos, pois o tempo que lhes sobra é gasto diante da “telinha”, quando o silêncio é exigido. Solange Jobim e Souza em sua obra a Subjetividade em Questão, diz que “nos lares de hoje as famílias não mais contam suas histórias. O convívio familiar se traduz na interação muda entre as pessoas que se esbarram entre os intervalos dos programas da TV e o navegar através do éden eletrônico [...]. O tato e o contato entre as pessoas, na casa ou no trabalho, cedem lugar ao impacto televisual”.
De acordo com os terapeutas de família, o problema número um em nossos dias é o colapso da família. Na pós-modernidade, um novo termo tem sido utilizado pelos terapeutas para descrever a difícil situação das famílias: disfuncional. Mas o que significa esse termo? Mau funcionamento? Este parece o significado óbvio, mas não é a definição precisa. Segundo  Ed Young o prefixo dis significa “perigoso”. Então, uma família disfuncional, por definição, é uma família que está funcionando “perigosamente”.  Perigosa para quem? Perigosa para os filhos, maridos e esposas, e para a sociedade em geral.




 




Essa postagem terá uma segunda parte.

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