Era da desinformação - parte 2
Diante de tantos malefícios, fica a pergunta: É lícito interagir com a mídia? Para o cristão, todas as coisas são lícitas, mas nem tudo é proveitoso ou edificante (1 Co 10.23; 16.12). Devemos fazer uso da mídia com prudência e discriminação. De acordo com Charles Colson e Nancy Pearcey, podemos desfrutar da mídia desde que estejamos treinados para sermos seletivos e definamos limites para que as sensibilidades da cultura popular não moldem o nosso caráter.
É importante ressaltar que a mídia e a publicidade comunicam crenças de valores, expressam sempre uma ideologia. Michael Palmer, no livro Panorama do Pensamento Cristão, diz que “os cristãos que veem a cultura de mídia de entretenimento têm de aprender a ler essas imagens e rejeitar as que são incompatíveis com os padrões cristãos e a Escritura”. Esse é o problema. As crianças e adolescentes conseguem fazer essa leitura? É difícil! Eles precisam ser ensinados a fazer isso. Quem vai ensiná-los? Em primeiro lugar os pais, mas a igreja e a Escola Dominical também têm sua parcela de responsabilidade e podem contribuir com a família. Não observância dos princípios bíblicos. Muitos dos princípios de Deus para a família vão sendo deixados de lado, já não sendo mais observados. O que mais ouvimos das crianças e dos jovens é: “Todo mundo faz”; “Todo mundo tem”. Mas os princípios bíblicos são imutáveis.
Tem “alguém” por trás da propaganda
Esse alguém a que me refiro não são os técnicos, redatores, editores, pessoas de carne e osso como nós. Esse alguém não possui um corpo físico. Ele é o Inimigo de nossas almas, lembrando que a sua função neste mundo é matar, roubar e destruir. As estratégias de Satanás para destruir as famílias mudam de tempos em tempos, e especificamente nos tempos pós-modernos. Temos visto o mundanismo na mídia, principalmente na TV, ridicularizando a fé cristã e refletindo de modo negativo em algumas famílias. Quando a família não dá muita ênfase à TV, as crianças, por influência dos amigos, concluem que sua família é “estranha” por priorizar Jesus e a igreja, uma vez que as famílias exibidas nos programas televisivos e nos comerciais não vivem como a sua.
As pessoas estão hipnotizadas diante da subjetividade das imagens; muitas já não conseguem discernir as artimanhas de Satanás. Precisamos clamar por um avivamento de contrição e santificação (1 Pe 1.15,16; 1 Ts 5.23).
No livro Criança Pergunta Cada Coisa..., Doris Sanford afirma que os pais devem olhar no mínimo um episódio do programa antes de permitir que as crianças assistam. É preciso selecionar cuidadosamente a programação que a família vai assistir. Uma pesquisa feita na Argentina mostrou que 95% das crianças conhecem toda a programação televisiva, mas apenas 5% dos pais sabem o que seus filhos assistem.
Na atualidade a criança vem correndo vários riscos. O modo como uma nação trata suas crianças e jovens diz muito sobre como será o seu futuro. Observe o que nos diz Jobim e Souza:
“[...] a criança contemporânea tem como destino flutuar erraticamente entre adultos que não sabem mais o que fazer com ela. Crianças passam assim a compartilhar entre si suas experiências mais frequentes, as quais se limitam, na maioria das vezes, ao contato com o outro televisivo, remoto, virtual e maquínico” (1997).
Como temos tratado nossas crianças? Como Igreja do Senhor, o que temos feito? Qual tem sido a nossa preocupação com a Educação Cristã?
A televisão e a propaganda estão impregnadas em nós de tal forma que podemos vê-la até na Escola Dominical. Na Escola Dominical? Isso mesmo! Está presente na fala das “tias”, nas músicas que as crianças cantam, no modo como se vestem, nos gestos, nos brinquedos e nas brincadeiras. A televisão nos leva a consumir não somente mercadorias, mas também imagens, linguagem, modo de ser... A Educação Cristã não deve se restringir às salas de aula da ED, pois nossos alunos são indivíduos afetados por seu meio. A reflexão a respeito da publicidade é relevante e fundamental para que possamos oferecer às crianças e jovens uma educação que lhes possibilite, de fato, dialogar com a mídia e com a nossa cultura.
Para Gilka Giradello, coordenadora do Ateliê Aurora, é fundamental fazer com que as crianças e jovens compreendam que a televisão não é uma “janela para o mundo — como gostam de caracterizar os mais otimistas: Ela é um recorte muito bem produzido e montado da realidade — e não a realidade”.
Os pais são os responsáveis em alertar os filhos e protegê-los dos efeitos nefastos da mídia e da publicidade. O pai não deve ser só o provedor do lar: deve ser o sacerdote; deve proteger sua casa espiritualmente (Êx 12.3,7,13). Todavia, os pais precisam de nossa ajuda, como servos de Deus e profissionais.
Tudo ficaria mais fácil para os professores da ED se os alunos fossem orientados pelos pais em casa. Todavia, muitas famílias transferem a responsabilidade de educar para os professores da ED e para a escola; esquecem-se de que é função deles instruir as crianças no caminho em que devem andar (Pv 22.6; Dt 6.6-9). Encontramos no livro de Deuteronômio a importância e a necessidade de os pais ensinarem as crianças. Observe as referências: Deuteronômio 4.9; 6.7; 11.19.
O psiquiatra Içami Tiba escreveu: “A herança genética está nos cromossomos. Mas desde o nascimento a criança absorve o modo de viver, o como somos, da família”. Se a família tem uma visão correta a respeito da mídia e da publicidade não terá dificuldade de passar isso aos filhos.
O marketing infantil é uma indústria enorme, que envolve vários profissionais e mexe com muito, muito dinheiro. A Igreja e a ED devem se unir na luta contra esse “gigante”. Gosto da frase de John Maxwell que diz: “Nada muito significativo foi alcançado por um indivíduo que tenha agido sozinho”. Precisamos nos unir para que o ensino seja relevante. Os alunos precisam aplicar a Palavra de Deus a suas vidas. Não basta ouvir é preciso viver, saber aplicar a Palavra de Deus no dia a dia (Tg 1.22), fora dos muros da igreja, diante da TV e de uma peça publicitária. Nossos alunos precisam saber como vão aplicar o conteúdo à sua vida.
Como cidadãos, temos a responsabilidade de alertar nossos alunos e os pais sobre o poder sedutor da linguagem televisiva e da propaganda. Não podemos nos calar diante dos estragos que a mídia vem produzindo.
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