As profissões dos discípulos de Jesus

Quem eram os 12 discípulos de Jesus? O que é um discípulo? Embora o Novo Testamento se refira frequentemente aos discípulos de Jesus, a maioria de nós não sabe de onde o termo veio ou o que ele realmente significava no mundo antigo. Vou definir esse termo em seu contexto original e falar um pouco sobre quem os doze discípulos de Jesus realmente eram.

O termo discípulo se tornou tão comum depois de dois mil anos de história cristã que muitos nunca pensam sobre o que ele realmente significava na época de Jesus. Então, de onde esse termo veio originalmente?

Todo o Novo Testamento foi escrito em grego. A palavra grega bíblica que traduzimos para o nosso idioma como “discípulo” é mathetes (nossa palavra “discípulo” vem do equivalente latino discipulus). Hoje em dia, muitos consideram um discípulo um seguidor de qualquer líder carismático. No entanto, quando olhamos para como a palavra era usada antes do Novo Testamento, outra tradução vem à mente: aluno.

Na Grécia antiga, um mathetes era o aluno de um filósofo. Filósofos gregos famosos como Platão e Aristóteles tinham discípulos, alunos que aprendiam filosofia com eles.

Frederick William Danker observa que a palavra significava "aquele que se envolve em aprender por meio de instruções de outro, aluno, um aprendiz". Havia um pouco mais nisso, no entanto.

O filósofo romano Sêneca, contemporâneo de Jesus e seus discípulos, disse o seguinte sobre Cleantes, discípulo do conhecido filósofo estoico, Zenão:

"Cleanthes não poderia ter sido a imagem expressa de Zenão, se ele tivesse apenas ouvido suas palestras; ele também compartilhou de sua vida, viu seus propósitos ocultos e o observou para ver se ele vivia de acordo com suas próprias regras. Platão, Aristóteles e toda a multidão de sábios que estavam destinados a seguir cada um seu caminho diferente, derivaram mais benefícios do caráter do que das palavras de Sócrates."

Pierre Hadot escreve que um discípulo não era simplesmente alguém que ouvia palestras ou lia os escritos de um filósofo. Ele vivia o dia a dia com o professor, seguindo seu exemplo e, de certa forma, realmente tentando se tornar um reflexo vivo daquele professor.

Isso faz sentido com os 12 discípulos de Jesus. Fica claro nas histórias do Novo Testamento que eles estavam com ele dia após dia, aprendendo com ele, mas provavelmente também tentando imitar seu modo de vida.

Mais uma coisa: o que é um apóstolo? Já que os discípulos também são chamados de apóstolos no Novo Testamento, deixe-me definir brevemente apóstolo. A palavra grega é apóstolos, que significa “aquele que é enviado, um mensageiro”. Isso faz sentido porque Jesus os envia para pregar aos outros.

Quem eram os 12 discípulos de Jesus?

Como de costume, os Evangelhos concordam amplamente entre si sobre a identidade dos 12 discípulos que Jesus chamou durante sua vida. O Evangelho de João, no entanto, embora nunca faça uma lista clara como os outros Evangelhos, menciona alguns nomes diferentes. Dê uma olhada no quadro abaixo.

Os 12 Discípulos de Jesus:

Simão Pedro.

André, irmão de Pedro.

Tiago Maior.

João.

 Filipe.

Bartolomeu.

 Tomé.

Mateus.

Tiago, filho de Alfeu.

Tadeu. 

Simão, o Zelote. 

 Judas Iscariotes

Como você pode ver, os nomes dos discípulos comuns a todos os quatro Evangelhos são Simão Pedro, André, Tiago e João, Filipe, Bartolomeu, Tomé e Judas Iscariotes. Os demais são mencionados em alguns Evangelhos, mas não em todos. Vamos explorar o que sabemos sobre essas figuras bíblicas.

Os primeiros discípulos que Jesus chama nos Evangelhos são dois irmãos, Simão Pedro e André, junto com outros dois irmãos, Tiago e João. Esses quatro provavelmente se conheciam, pois eram todos pescadores na Galileia . De acordo com todos os Evangelhos, todos os quatro abandonaram suas profissões e provavelmente suas famílias para seguir Jesus.

Outro discípulo, às vezes chamado de Mateus e outras vezes chamado de Levi, é dito ter sido um cobrador de impostos. Esta era considerada uma profissão pecaminosa pela maioria dos judeus, já que ele estava coletando impostos para os odiados romanos. Quando Jesus chama Mateus, ele abandona definitivamente esta profissão.

As profissões dos outros discípulos não são tão claras, mas podemos fazer algumas suposições com base em pistas nos Evangelhos.

Filipe, como os quatro primeiros discípulos, era da cidade de Betsaida, na Galileia, sugerindo uma possível conexão com o comércio de pesca, embora isso não seja explicitamente mencionado. Outro discípulo, Tomé, também conhecido como Dídimo, continua sendo uma figura enigmática sem nenhuma profissão clara declarada nos Evangelhos. No entanto, diz- se que ele foi carpinteiro nos Atos de Tomé, um texto apócrifo do século III, embora esta seja uma afirmação bastante tardia para ser de grande utilidade do ponto de vista histórico.

O título de Simão, o Zelote, sugere uma afiliação política com os Zelotes, um grupo conhecido por sua oposição radical ao domínio romano, em vez de uma ocupação específica.

Por fim, Judas Iscariotes, que se tornaria infame por sua traição a Jesus, é considerado responsável pelo dinheiro do grupo, como mencionado no Evangelho de João (João 12:6; 13:29), o que implica um papel que exigia perspicácia financeira. O caso é particularmente convincente, pois sabemos que a profissão de Mateus (novamente, ele era um cobrador de impostos) envolvia mordomia de dinheiro. Na série The Chosen, a antiga profissão de Judas era tesoureiro, o que explica um pouco sua cobiça por dinheiro.

Em I Coríntios 15:5, Paulo diz que depois que Jesus ressuscitou, ele apareceu a Pedro e depois aos "Doze".  Isso apresenta uma anomalia fascinante, já que Judas estaria ausente. Paulo não deveria ter dito que Jesus apareceu aos "onze"? Essa discrepância levou os estudiosos a propor que, na época em que Paulo estava escrevendo aos coríntios, "Os Doze" haviam se tornado uma designação titular na tradição cristã. O título pode ter transcendido a contagem literal, em vez disso, incorporando o número original do grupo. No entanto, muitos acreditam que o décimo segundo foi Matias, o discípulo póstumo que substituiu Judas.

Embora os doze discípulos tenham sido todos escolhidos por Jesus, ele parece ter dado a três dos doze um status especial.

Nos Evangelhos, Pedro, Tiago e João se tornam o círculo íntimo de Jesus entre os discípulos, compartilhando conhecimento e experiências com Jesus que os outros discípulos não têm. Eles são até mesmo chamados de Pilares da Igreja nas cartas de Paulo. Esses três são os únicos presentes na Transfiguração de Jesus e estão com Jesus no Jardim do Getsêmani antes de sua prisão.

Para mostrar a proximidade especial que ele tinha com esses três, os Evangelhos dizem que Jesus lhes dá apelidos. Ele chama Simão de Pedro ou Cefas, que significa “rocha” em aramaico. Todos os quatro Evangelhos traduzem isso para a palavra grega Petros. Mateus 16:18 diz que isso ocorre porque Pedro é a “rocha” sobre a qual Jesus construirá sua igreja. Os Evangelhos também nos dizem que Jesus chamou Tiago e João de “filhos do trovão”, embora não digam o porquê.

No Evangelho de Marcos, a maioria dos 12 discípulos são escolhidos por Jesus dentre vários outros seguidores. Mateus e Lucas, usando Marcos como fonte, contam muito da mesma história, embora Mateus, o cobrador de impostos, seja chamado separadamente.

No Evangelho de João, Jesus chama Filipe, que então chama seu irmão Natanael, cujo nome não é mencionado nas escrituras, mas é tradicionalmente associado a Bartolomeu. Apesar de nos dar os nomes desses outros discípulos, os Evangelhos dizem pouco mais sobre eles.

Nossa primeira referência escrita aos 12 discípulos aparece em uma das cartas de Paulo, 1 Coríntios 15:3-5:

"Pois primeiramente vos transmiti o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que apareceu a Cefas e depois aos Doze."

Isso indica que Paulo e a Igreja primitiva acreditavam que Jesus tinha um relacionamento especial com Pedro, que viu o Jesus ressuscitado primeiro. Isso foi aparentemente seguido pela aparição de Jesus aos 12, embora Paulo não nomeie os outros nessa referência.

E quanto a Judas Iscariotes? Embora Judas Iscariotes seja mencionado em todos os quatro Evangelhos, ele é um dos discípulos sobre os quais os estudiosos têm menos informações históricas. Obviamente, não se deve confundir o Iscariotes com Judas Tadeu, que também foi um dos apóstolos de Cristo.

 No mundo antigo, um discípulo era um estudante e imitador de um filósofo ou professor. Embora certamente se esperasse que o discípulo aprendesse os ensinamentos do mestre, também se esperava que ele aprendesse a viver como ele, o que podemos ver no relacionamento entre Jesus e seus discípulos nos Evangelhos.

Pedro, André, Tiago e João eram inicialmente pescadores. Mateus era um cobrador de impostos. Sabemos pouco sobre a profissão dos outros.

Como os 12 discípulos de Jesus morreram? Segundo a tradição, 11 dos discípulos foram martirizados, embora apenas a morte de Tiago seja mencionada no Novo Testamento. Diz-se que Judas Iscariotes morreu por sua própria mão, de vergonha por ter traído Jesus, mas é isso é um artigo que escreverei em outra hora.